ROCHA DE SOUSA


LINK PARA MEMÓRIA DO ESQUECIMENTO GLOBAL

6 de Outubro a 15 Novembro de 2016
Sala da Grande Guerra - Museu Militar de Lisboa
Museu Militar de Lisboa
Largo da Artilharia (Santa Apolónia) Lisboa




Pintura / Colagem: 


Lembrança Branca


Cruz de Cinco Pontas


Morte da Inocência


Força de Interposição


Morada de Deus


Medo e Ferro




Filmes: 






O Museu Militar de Lisboa em colaboração com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa programou um conjunto de exposições de artistas portugueses contemporâneos nas Salas da Grande Guerra com caráter evocativo dos acontecimentos ocorridos entre 1914 e 1918, em todo o mundo: I Guerra Mundial. Estas exposições, individuais e por períodos temporários, iniciaram-se em 9 de março de 2016, quando do centenário da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, e concluir-se-ão em18 de novembro de 2018, quando do centenário do armistício.
A possibilidade desta projeto se realizar deve-se aos apoios do Exercito Português, do Museu Militar de Lisboa, da Comissão para a Evocação da Grande Guerra, da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e do Centro de Investigação e Estudo em Belas Artes. Contando com a participação de cerca de vinte artistas, procurara-se demonstrar, através de produções artísticas diferenciadas e concebidas especificamente para a Sala da Grande Guerra deste museu, que a arte atualiza os sentidos das coisas e promove sintonias, diálogos e debates, quer sobre ela própria quer sobre outras causas, cumprindo de um modo subtil a função de prospetar futuros.
Assim no próximo dia 6 de Outubro de 2016 inaugura a exposição de Rocha de Sousa, intitulada Link para Memória do Esquecimento Global, onde se mostra alguma da sua obra de pintura, de vídeo e literária carregada de dramas humanos, conflitos internos e externos em simbiose, escrita e oralidade e imagem pictórica e vídeo, inserida num espaço cheio das memórias das mesmas ocorrências. As guerras são iguais às guerras.
Neste exposição, envolta pelos olhares do passado mostra-se a obra sob a forma de colagens bidimensionais, de vídeo e bibliográfica. O trabalho do artista expande-se por todos os lugares onde seja reclamada a sua presença, sejam as artes plásticas, o cinema, a literatura, a cultura, o ensino ou quaisquer outras.

Mas a forma como Rocha de Sousa vê, sente e faz pintura está dita por si próprio neste texto:

A ESCRITA DENTRO DA IMAGEM

Portanto a urgência de dizer. Dizer apesar dos limites, contra ou por dentro das convenções. Mesmo quando não se refazem, as convenções podem sobrepor-se ou misturar-se. Fernando Pessoa dizia imagens com palavras e usava as convenções, inteiras ou distorcidas, adequadas à forma expressiva de cada heterónimo, poetas diferentes que o habitavam, emergindo misteriosamente para a vida.
Sento-me, exausto, e penso na metamorfose da escrita em imagem ou da imagem em escrita.
No meu livro “AS COINCIDÊNCIAS VOLUNTÁRIAS” tentei dar a ver esse fenómeno, sobretudo o da pintura brotando da escrita, entre composição, ritmo e ressurreição plena do espaço adjectivante. E à medida que participava na guerra, olhando mais tarde para os desastres principais, personagens ilustrados no limite da morte, tudo se fazia imagem, absurda ou conceptual, e mesmo há dias cheguei a perceber que a globalização atual, cercando o mundo, é um espaço que desfaz culturas e não nos oferece alternativas, Ainda nem todos perdemos a memória. A memória que resta, é ainda dimensão de serviços sem conta. Na vida e na arte. Sem conta, reinicia a consciência do ver, não explica o que se vê: abre caminho ao lugar das coisas, confunde-se com elas. E é então que tudo começa: a dicotomia da imagem e da palavra, por exemplo.
Um homem, sentado na fonteira do mundo sem o saber, inventa-se pelas imagens aparentemente perecíveis ou inúteis. o cenário aparente: terra solta, arbustos, a nuvem que passa (imóvel) por cima da sua cabeça, além de uma casa ardida, ruinas de outros tempos, a carcaça de um barco naufragado. O homem olha e não sabe se chega a ver, apropriando-se do sentido das coisas, como fazem os pintores pelo testemunho e pela revolta das suas representações. É através de um certo olhar, de um certo ver, do mundo conceptual e do imaginário interior que muitas coisas se podem reinventar e estimular a resistência da nossa espera. A região das palavras/imagens leva o homem a estremecer, imaginando outra verdade, símbolos e mitologias. Como nos sonhos. Como entre corpos.
Assim digo e imagino a minha pintura, inquieto perante o mundo que me rodeia e cujo sentido se perde cada vez mais. Por isso escrevo as imagens, arbustos, a aparente permanência na vida e os detritos das últimas batalhas. E, embora muitos corpos estejam já retidos na margem do pó, consumindo devagar as raízes no milagre da vida.
Quem fica, e sobretudo os artistas, inventam outros contornos, palavra a palavra, reiterando a cosmografia de novos símbolos — como se o olhar, cavalgando pela perceção a nuvem efémera, pudesse esboçar novos limites de opacidade, improváveis lugares.

Rocha de Sousa
Lisboa, julho de 2016


Currículo breve: Rocha de Sousa, nascido em Silves em 1938, é artista plástico pintor e professor Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e crítico de arte. Foi professor convidado da Universidade Aberta, onde investigou e lecionou Tecnologia do Vídeo. É membro correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes, da Associação Internacional da Crítica de Arte e tem uma larga participação na programação da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Com uma larga atividade artística, expôs no país e no estrangeiro, em centenas de exposições coletivas e realizou cerca de vinte exposições individuais.
Tem participado em diversos campos de criação artística e em espaços culturais de periódicos como Diário de Lisboa, Colóquio Artes, Seara Nova, Sinal, Artes Plásticas e atualmente o Jornal de Letras. Participou em muitas conferências, visitas guiadas, em paralelo com trabalho de pesquisa e ensaio em cinema e vídeo, com diversos filmes realizados.
Nos anos 70 participou na Bienal de Veneza.
Colaborou em várias séries sobre arte para a RTP como por exemplo Arte Portuguesa, As Coisas e as Imagens, A Mão, o Homem em Desenvolvimento entre outras.
Publicou tanto estudos de carácter pedagógico, didático e técnico como por exemplo Didáctica Educação Visual, Ver e Tornar Visível, Desenho: Textos Pré Universitários 19, Introdução às Artes Plásticas, como ensaios monográficos de artistas portugueses seus contemporâneos como Pedro Chorão, Eduardo Nery ou Dourdil,
No plano literário tem uma extensa bibliografia publicada: Amnésia (teatro), Angola 61 - uma Crónica de Guerra, A Casa, Os Passos Encobertos, A Casa Revisitada, A Culpa de Deus, Belas Artes e Segredos Conventuais, Coincidências Voluntárias, Talvez Imagens e Gente de Um Inquieto Acontecer, Lírica do Desassossego, Narrativas da Suprema Ausência e Os Fantasmas de Lisboa.
Para mais informações sobre Rocha de Sousa:

FERRÃO, Hugo, Rocha de Sousa: ser sem heterónimos. In: Arte Teoria. - Lisboa, 2000. - Nº4 (2003). ISSN 1646-396X, p. 73-99.



Obras em exposição nas Salas da Grande Guerra:


  • A Cruz de Cinco Pontas, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm.
  • A Morte da Inocência, 1997. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm.
  • Força de Interposição, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm.
  • Lembrança Branca, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm.
  • Morada de Deus, 1997. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm.
  • Medo e o Ferro, 1998. Técnica mista, Pintura / colagem, 90 cm x 90 cm.
  • Prisioneiro, 1980. Com a participação de Lima Carvalho, 23’28’’.
  • Atelier do Pintor, 1983-1984. Com a participação de Rogério Ribeiro, 20’41’’.
  • Tempestade, 1991. Com participação de Fátima Mendonça, 26’29’’.
  • Praga, 1989. Com a participação de Ana Machado e Fátima Mendonça, 26’05’’.
  • Vitrina 1, Mobilidades, 1970-2016.
  • Vitrina 2, Famílias, 1981. 7 Pinturas / colagem. 





Currículo breve:
Rocha de Sousa, nascido em Silves em 1938, é artista plástico pintor e professor Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e crítico de arte. Foi professor convidado da Universidade Aberta, onde investigou e lecionou Tecnologia do Vídeo. É membro correspondente da Academia Nacional de Belas-Artes, da Associação Internacional da Crítica de Arte e tem uma larga participação na programação da Sociedade Nacional de Belas Artes.
Com uma larga atividade artística, expôs no país e no estrangeiro, em centenas de exposições coletivas e realizou cerca de vinte exposições individuais.
Tem participado em diversos campos de criação artística e em espaços culturais de periódicos como Diário de Lisboa, Colóquio Artes, Seara Nova, Sinal, Artes Plásticas e atualmente o Jornal de Letras. Participou em muitas conferências, visitas guiadas, em paralelo com trabalho de pesquisa e ensaio em cinema e vídeo, com diversos filmes realizados.
Nos anos 70 participou na Bienal de Veneza.
Colaborou em várias séries sobre arte para a RTP como por exemplo Arte Portuguesa, As Coisas e as Imagens, A Mão, o Homem em Desenvolvimento entre outras.
Publicou tanto estudos de carácter pedagógico, didático e técnico como por exemplo Didáctica Educação Visual, Ver e Tornar Visível, Desenho: Textos Pré Universitários 19, Introdução às Artes Plásticas, como ensaios monográficos de artistas portugueses seus contemporâneos como Pedro Chorão, Eduardo Nery ou Dourdil,
No plano literário tem uma extensa bibliografia publicada: Amnésia (teatro), Angola 61 - uma Crónica de Guerra, A Casa, Os Passos Encobertos, A Casa Revisitada, A Culpa de Deus, Belas Artes e Segredos Conventuais, Coincidências Voluntárias, Talvez Imagens e Gente de Um Inquieto Acontecer, Lírica do Desassossego, Narrativas da Suprema Ausência e Os Fantasmas de Lisboa.
Para mais informações sobre Rocha de Sousa:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Rocha_de_Sousa
http://rochasousa.blogspot.pt/

FERRÃO, Hugo, Rocha de Sousa: ser sem heterónimos. In: Arte Teoria. - Lisboa, 2000. - Nº4 (2003). ISSN 1646-396X, p. 73-99.


Outros trabalhos:



A CASA REVISITADA, anos 70's. Super 8, 10'

A CASA REVISITADA, filme rodado em Super 8 por Rocha de Sousa, baseia-se em alguns sinais de fundo do seu livro de título homónimo, romance que aborda o regresso de um personagem fundador à sua cidade de origem, juntando a memória da velha casa à da velha mãe, entre um amor suspenso — trajecto sobre a ternura, o tempo e a morte, numa magoada meditação sobre o modo de viver, a relação do homem com o seu meio e os desastres do seu tempo.
O filme aglutina tudo isso na figura da mãe, na solidão que lhe resta perante um contexto arruinado pelos anos, gestos que parecem revisitar em pleno quotidiano, a casa protectora, os sinais da sua antiguidade, memória e vida, espera, uma forma de ser.
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THE REVISITED HOUSE


THE REVISITED HOUSE, Super 8 film shot by Rocha de Sousa, is based on some background signals of his book with the same title, a novel that deals with the return of a character to its city of origin, adding the memory of the old house to the memory of his old mother, between a suspended love - on the route over tenderness, time and death, in a painfull meditation about the way to live, man's relationship with its environment and the disasters of his time.

The film brings all together in the mother figure in the solitude she has left before a context ruined by the years, gestures that seem to revisit, in full-everyday, the protecting home, the signs of its antiquity, memory and life, wait, a way to be.









Rocha de Sousa, Emergência I, 2003. Acrílico sobre tela, 130 cm x 97 cm. Galeria São Mamede, 2016