By Cláudia Ferreira · On 12/08/2016
Patente no Museu Militar de Lisboa até dia 30 de Setembro
deste ano, a lúcida intervenção de Isabel Sabino enquadra-se no projecto mais
vasto denominado Evocação, num convocar da Arte Contemporânea em alusão à
Grande Guerra.
Inaugurou no dia 15 de Junho e permanece, portanto, até 30
de Setembro; ocupa as Salas da Grande Guerra e inscreve-se num programa
evocativo dos acontecimentos que ocorreram entre os anos de 1914 e 1918,
concretamente, entre 9 de Março de 2016, data em que se assinalou o centenário
da declaração de guerra da Alemanha a Portugal, e 18 de Novembro de 2018,
momento em que se marcará o centenário do armistício.
Tal intervenção “assume como perspectiva um olhar feminino”:
lê-se no texto-testemunho assinado por Isabel Sabino em Abril de 2016, e que a
acompanha. Na verdade, a pintora interpela-nos acerca da figuração feminina que
persiste no museu, essencialmente da ordem do imaginário, e, neste, seguindo
aquela que mais se adequa ao espírito guerreiro. Assim, e seguindo as suas
palavras, “alegorias da vitória, da fama e da glória ou dos lugares de
conquista, guerreiras ou anjos protetores, mas também assombrações do terror,
esposas, mães enlutadas e carpideiras, ou ainda deusas, ninfas e Nereides,
aparições sensuais de amantes longínquas.”
Não será despiciente, por exemplo, assinalar, logo na
primeira sala em que se dispõem quatro vitrinas, duas das quais reservadas às
proposições da pintora de que nos ocupamos, um gesso da autoria de Francisco
Santos, e do ano de 1913, a representar a República Portuguesa. Se nos
lembrarmos de Joan B. Landes, ao traçar o movimento entrelaçado das mulheres e
da esfera pública para a época da Revolução Francesa, matriz das repúblicas
contemporâneas, facilmente concluímos que foram não apenas construídas “sem” as
mulheres, como inclusivamente “contra” elas. Aqui radica a acutilância das
palavras de Isabel Sabino e, na verdade, à mulher resta a árdua tarefa de
resgatar um corpo subsumido em imaginários sem dúvida inscritos num autêntico
inconsciente colectivo. A nós parece-nos existir, neste aspecto, um
desequilíbrio evidente entre o feminino e o masculino... (LER TEXTO COMPLETO)