A menina não fica
em casa
15 junho / 30 setembro
Miss
Maria, 2016.
Instalação (153x255x400 cm).
Materiais têxteis e outros.
Mulheres
de armas, 2016.
14 Pinturas,18x13 cm e 1, 40x50 cm.
Acrílicas s/tela.
A
menina não fica em casa, 2016.
33 Pinturas (entre 13 e 33 cm).
Técnica mista de acrílicas s/ tela.
No dia 15 de junho às 17,30 horas inaugurou a intervenção «A Menina
(não) fica em casa» de ISABEL SABINO, na Sala da Grande Guerra do Museu Militar
de Lisboa, no âmbito do projeto de arte contemporânea intitulado EVOCAÇÃO, a
decorrer ente 2016 e 2018.
Pode ser visitada até 30 de setembro.
Pode ser visitada até 30 de setembro.
Local
Largo Museu da Artilharia, Lisboa (Santa Apolónia)
Horário
3ª Feira a domingo das 10h às 17 h. Aos sábados e domingos encerra entre
as 12h30 e as 13h45
Contactos
Gabinete de Relações Públicas da FBAUL, 213252100.
Este projeto
de intervenção artística no Museu Militar, nas salas dedicadas à participação
portuguesa na 1ª Grande Guerra, por ocasião do centenário desta, assume como
perspectiva um olhar feminino.
Quando se
percorre as salas deste museu surgem diferentes imagens da mulher: começando
pelo retrato da jovem rainha D. Maria por Joaquim Rafael, há algumas figuras de
mulheres associadas à história de Portugal, tais como a mulher de Egas Moniz
com ele a entregar-se ao rei de Castela (por Malhoa), ou Inês de Castro (por
Columbano).
Mas a
maioria da figuração feminina neste museu é, de facto, da ordem do imaginário,
um imaginário que, de certa forma, povoa o espírito guerreiro: alegorias da
vitória, da fama e da glória ou dos lugares de conquista, guerreiras ou anjos
protetores, mas também assombrações do terror, esposas, mães enlutadas e
carpideiras, ou ainda deusas, ninfas e Nereides, aparições sensuais de amantes
longínquas.
Na sombra
destas, podem contudo supor-se também mulheres discretas, história invisível
nos bastidores dos objetos necessários à guerra e à vida que continua:
laborando uma arma, um agasalho, uma maca, um curativo ou uma oração, em
especial no contexto da guerra de 14-18. Para além do museu, as histórias reais
acumulam-se tanto como as suspeitadas, imaginadas, ou absurdas - como a
acusação de espionagem hipotética a Sonia Delaunay, em abril de 1916, por as
suas telas abstratas, a secar ao sol na casa da Rua dos Banhos de Vila do
Conde, terem sido vistas por alguém como avisos em código aos submarinos
alemães que passavam ao largo: no fundo, um outro tipo de participação na
guerra que a certas mulheres se poderia imputar.
Seguindo à
letra a designação corrente da Guerra 14-18 como “guerra das trincheiras”, e
sob os exemplos inspiradores da Cruzada das Mulheres Portuguesas, de algumas
mulheres das gerações de vanguarda feminista no nosso país e, em especial, das
mulheres construtoras de trincheiras na frente do Rio Piave (Norte de Itália),
este projeto toma como alegoria a construção de uma trincheira.
Assim, a
invocação desse reduto bélico expressivo da ação dupla de defesa-e-ataque surge
aqui corporizada por gestos ancestrais de labor e de potencial solidariedade
feminina e pacifismo na especificidade das linguagens plásticas e pictóricas
usadas (pequenas pinturas sobre tela e um objecto instalativo), num tempo em
que as trincheiras reais são obsoletas e um outro tipo de guerra menos visível
– a de iníquas e recorrentes violências de género, frequentemente associadas ao
terrorismo – parece estar de regresso e para ficar, a não ser que as próprias
mulheres pensem e ajam mais decisivamente.
Isabel Sabino, abril 2016
This artistic
intervention at the Military Museum, in the rooms dedicated to the Portuguese
participation in the 1st World War by its centenary, assumes a feminine look as
perspective.
When we walk through
this museum different images of women appear:
To begin with the
portrait of the young Queen D. Maria by Joaquim Rafael, there are some women
figures associated with the history of Portugal, such as the wife of Egas Moniz
with him before the king of Castela (by Malhoa), or Inês de Castro (by
Columbano).
However, in this
museum most feminine figuration comes from imagination, an imagination that, in
a way, dwells in the spirit of war: allegories of victory, fame and glory or
conquest of places, warriors or guardian angels, but also the ghosts of terror,
mourning wives and mothers, or goddesses, nymphs and Nereides, sensual
apparitions of distant lovers.
In the shadow of all
this, nevertheless, we can also glimpse discreet women, invisible stories
behind the scenes of the objects needed by war and life going on: labouring a
weapon, a coat, a stretcher, a healing or a prayer, especially in the context
of war 14-18. Beyond the museum, real stories accumulate as much as the
suspected, imagined, or absurd ones – such as the hypothetical espionage charge
of Sonia Delaunay on April 1916 for her abstract canvases, drying in the sun in
the house of Rua dos Banhos of Vila do Conde, have been seen by someone as
coded warnings to passing offshore German submarines: after all, another type
of participation in the war that certain women could be ascribed to.
Literally following
the current designation of WW1 as "trench warfare", and under the
inspiring examples of the Portuguese Women Crusade, of some women of the
feminist Portuguese avant-garde generation and, especially, of those women who
built trenches at the front of Piave River (Northern Italy), this project takes
the construction of a trench as allegory.
Thus, the invocation
of this military device expressive of the dual action of defence-and-attack is
embodied here by ancient gestures of labour and potential women’s solidarity
and pacifism in the specificity of the used plastic and pictorial languages
(small paintings on canvas and an installation object), at a time when real
trenches are obsolete and another kind of war – the iniquitous and recurrent gender
violence, often associated with terrorism – seems to be back and stay, unless
women themselves think and act more decisively.
Isabel Sabino, April 2016
Dora Iva Rita, 2015
Branca, anuncie aqui, 2011. Acrílico sobre tela, 30 cm x 40 cm
Quel bon dimanche pour la saison, 2014. Acrílico sobre tela, 12 cm x 195 cm
ISABEL
SABINO, CV
N,
Lisboa, 1955. Formada em Artes Plásticas-Pintura (ESBAL, 1978). Docente no
Ensino Secundário (1976-1982, estágio em 1979) e em Belas Artes (ESBAL/FBAUL)
desde 1982, atualmente professora catedrática. Diretora artística das
exposições na Amascultura/Teatro da Malaposta (1993-1995) e docente convidada
na ESTC (Cinema) em 2002 e 2003. Membro dos centros de investigação Cieba
(FBAUL) e i2ads (FBAUP), da ANBA (Academia Nacional de Belas Artes) e da
Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa.
Trabalho artístico mais recente
Individuais
– Logo se vê (2007); E os pássaros cantam (2009); São rosas, meu (2011); Talvez bombons (2014): G. Arte
Periférica, Lisboa; E os rios nascem no
mar (2015, Lugar do Desenho – Fundação Júlio Resende). Colectivas – Arte&Natureza (Jardim Botânico/Reservatório
Patriarcal/FBAUL, Lisboa, 2009); D’Aprés
Nuno Gonçalves (Museu Nacional Arte Antiga, Lisboa, 2010/2011); Parergon (Galeria Municipal de Torres
Vedras, 2013); De braços abertos: A sala de Ruth. Ruth’s room (Casa das
Artes de Tavira, 2015).
Textos publicados (sel.
títulos):
A
Pintura Depois da Pintura (FBAUL, 2000); O
Homem que queria ser um artista (Cieba, 2006); Uma (In)certa Natureza (Cieba, 2009); Rosas em Janeiro: Algumas Notas sobre Arte Política e Colectivismo
(Assíro & Alvim/Cieba, 2010); As
flores na nossa mesa (a propósito da política na arte) (Trajectos, ISCTE,
2011); A cadeira (FBAUP/i2ads, 2011);
Surfing, sob um céu cor de tinta. Algumas
notas sobre a melancolia na pintura contemporânea (Universidade Nova,
2011); COLABORARE: a few thoughts on expanded
authourship.
(Transforma, 2012); Se eu fosse uma Guerrilla Girl #2 (Cieba, 2012); Com
ou sem tintas: composição, ainda? Coord., e Tinta: nojenta.
Cor: abjeta. Pintura? Bleahh... (Cieba, 2013); Como a poeira no ar e no rastro de uma nuvem: Mapeando a pintura
contemporânea. (2014); And Painting?
A pintura contemporânea em questão. Coord. e A Pintura que falta (2014); A
pintura depois da pintura: novos desenvolvimentos (2015); She sells sea shells: notas para uma poética (e
uma política) em pintura (2015); Maria
Keil: traços discretos para um espaço público (2015).