terça-feira, 3 de outubro de 2017

Manuel Gantes - Campo Santo - 7 de Novembro / 7 de Dezembro 2017




O Museu Militar de Lisboa em colaboração com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, na continuação do projeto «Evocação», iniciado no dia 9 de março de 2016, o qual consta de “exposições – intervenções de arte” nas Salas da Grande Guerra, todas evocativas dos acontecimentos ocorridos no Mundo entre 1914 e 1918, anuncia «Campo Santo», uma instalação de cerca de uma vintena de pinturas de Manuel Gantes concebidas propositadamente com esse objectivo, para esse espaço e para o atual tempo.
A proposta que Manuel Gantes nos enuncia nas obras que expõe, encaminha a nossa memória contra o esquecimento de um facto histórico decorrente de todas as batalhas onde inevitavelmente vencedores e vencidos coabitam: uma escultura de Cristo crucificado, agora mutilada e baleada, salva do campo de batalha, conhecida como «Cristo das Trincheiras». Uma obra que sublinha a força que as imagens-arte têm em nós, como coisa que ultrapassa em muito a fragilidade dos corpos estendidos mortos nos campos das batalhas de todos os dias.
Sobre esta incursão Manuel Gantes afirma:

«Cristos das trincheiras. Céu negro, sem luz, linhas de sombra. A pintura como evocação de um tempo transversal, um tempo que nunca se repete e no entanto é um tempo de desgaste. Sombra celeste.
Flandres, vale da ribeira de La Lys, dia 9 de Abril de 1918, os soldados portugueses são massacrados pela máquina de guerra alemã.
A consciência, as trincheiras do medo e da impotência que se abatem penosamente sobre este pequeno país, o fogo, as chamas, a guerra, as vítimas, no limite todos vítimas mas uns mais que outros. Os outros…»

As pinturas e as palavras de Manuel Gantes serão a síntese de um pensamento, e tratam da esperança que permanece depois de tudo findar.
O «Cristo das Trincheiras», atualmente presente no Mosteiro da Batalha, manteve-se de pé, esperando que o resgatassem (2ª Divisão do CEP) de um campo de batalha coberto de cadáveres onde jaziam 7.500 portugueses, mortos ou agonizantes, e onde a imagem tornada fotografia, de Arnaldo Garcez, testemunha a escultura mutilada, com pernas e braços decepados, e com uma bala a atravessar-lhe o peito.
Esta intervenção pode ser visitada a partir de 7 de novembro, com inauguração às 17:30 h, até 7 de dezembro de 2017.

 Ilídio Salteiro,

Lisboa, Fevereiro, 2017