O Museu Militar de Lisboa em colaboração com a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, na continuação do projeto «Evocação», iniciado no dia 9 de março de 2016, o qual consta de “exposições – intervenções de arte” nas Salas da Grande Guerra, todas evocativas dos acontecimentos ocorridos no Mundo entre 1914 e 1918, anuncia «Campo Santo», uma instalação de cerca de uma vintena de pinturas de Manuel Gantes concebidas propositadamente com esse objectivo, para esse espaço e para o atual tempo.
A proposta que Manuel Gantes nos enuncia nas
obras que expõe, encaminha a nossa memória contra o esquecimento de um facto
histórico decorrente de todas as batalhas onde inevitavelmente vencedores e
vencidos coabitam: uma escultura de Cristo crucificado, agora mutilada e
baleada, salva do campo de batalha, conhecida como «Cristo das Trincheiras».
Uma obra que sublinha a força que as imagens-arte têm em nós, como coisa que
ultrapassa em muito a fragilidade dos corpos estendidos mortos nos campos das
batalhas de todos os dias.
Sobre esta incursão Manuel Gantes afirma:
«Cristos das trincheiras. Céu negro, sem luz,
linhas de sombra. A pintura como evocação de um tempo transversal, um tempo que
nunca se repete e no entanto é um tempo de desgaste. Sombra celeste.
Flandres, vale da ribeira de La Lys, dia 9 de
Abril de 1918, os soldados portugueses são massacrados pela máquina de guerra
alemã.
A consciência, as trincheiras do medo e da
impotência que se abatem penosamente sobre este pequeno país, o fogo, as
chamas, a guerra, as vítimas, no limite todos vítimas mas uns mais que outros.
Os outros…»
As pinturas e as palavras de Manuel Gantes serão
a síntese de um pensamento, e tratam da esperança que permanece depois de tudo
findar.
O «Cristo das Trincheiras», atualmente presente
no Mosteiro da Batalha, manteve-se de pé, esperando que o resgatassem (2ª
Divisão do CEP) de um campo de batalha coberto de cadáveres onde jaziam 7.500
portugueses, mortos ou agonizantes, e onde a imagem tornada fotografia, de
Arnaldo Garcez, testemunha a escultura mutilada, com pernas e braços decepados,
e com uma bala a atravessar-lhe o peito.
Esta intervenção pode ser visitada a partir de
7 de novembro, com inauguração às 17:30 h, até 7 de dezembro de 2017.
Ilídio
Salteiro,
Lisboa, Fevereiro, 2017